São Luís do Maranhão possui duas veneráveis casas matrizes de tambor-de-mina, religião de base afro-brasileira; a Casa Grande das Minas e a Casa de Nagô. A primeira cultua apenas os voduns, a segunda cultua também orixás, encantados e caboclos. A Casa de Nagô deu origem a inúmeros terreiros que difundiram a encantaria por toda ilha de São Luís.
Do Maranhão o tambor-de-mina chegou ao Pará, travou contato com a pajelança indígena e ganhou outras cores , absorvendo inúmeros novos encantados ao seu panteão. Hoje quero fazer algumas observações sobre eles, os encantados, entidades que me fascinam profundamente.
Vale esclarecer algumas dúvidas. Na encantaria, por exemplo, o termo caboclo não é sinônimo de entidade ameríndia, podendo ser genericamente utilizado para designar entidades de variadas origens. Os caboclos, ou encantados, se reunem em famílias, com um chefe e suas linhagens, que abrangem turcos, índios, reis, nobres, marujos, princesas, etc.
Os encantados não são espíritos desencarnados; são pessoas, ou até animais, que viveram mas não chegaram a morrer, sofreram antes a experiência do encantamento e foram morar no invisível. De vez em quando saem de lá, pegam carona na asa do vento e vêm à terra, no corpo dos iniciados, para dançar, dar conselhos, curar doenças, jogar conversa fora e matar as saudades do povo que continua por aqui.
A família mais famosa de encantados é a do Lençol. Dizem que lá, na praia do Lençol - Maranhão -, mora o Rei Dom Sebastião, que encantou-se durante a batalha de Alcácer-Quibir. Essa família é formada apenas por reis e fidalgos. A vinda do Rei Dom Sebastião ao corpo de uma sacerdotisa é muito rara, alguns falam que ocorre de sete em sete anos. Da família do Lençol fazem parte ainda, dentre outros, Dom Luís, o rei de França; Dom Manoel, conhecido como o Rei dos Mestres; a Rainha Bárbara Soeira; Dom Carlos, filho de Dom Luís, e o famoso Barão de Goré, tremendo cachaceiro e chegado num furdunço dos brabos.
Outra família famosa de encantados é a da Turquia, chefiada por um rei mouro, Dom João de Barabaia, que lutou contra os cristãos. É a esta família que pertence a Bela Turca, a cabocla Mariana, que vem ao mundo não apenas na forma de turca, mas também como marinheira, cigana ou índia.
Tive a oportunidade de ver e conversar algumas vezes com Dona Mariana, que nessas ocasiões falou da minha vida e me deu conselhos absolutamente pertinentes. Sempre que este privilégio aconteceu a Bela Turca apresentou-se como uma marinheira.
Do Maranhão o tambor-de-mina chegou ao Pará, travou contato com a pajelança indígena e ganhou outras cores , absorvendo inúmeros novos encantados ao seu panteão. Hoje quero fazer algumas observações sobre eles, os encantados, entidades que me fascinam profundamente.
Vale esclarecer algumas dúvidas. Na encantaria, por exemplo, o termo caboclo não é sinônimo de entidade ameríndia, podendo ser genericamente utilizado para designar entidades de variadas origens. Os caboclos, ou encantados, se reunem em famílias, com um chefe e suas linhagens, que abrangem turcos, índios, reis, nobres, marujos, princesas, etc.
Os encantados não são espíritos desencarnados; são pessoas, ou até animais, que viveram mas não chegaram a morrer, sofreram antes a experiência do encantamento e foram morar no invisível. De vez em quando saem de lá, pegam carona na asa do vento e vêm à terra, no corpo dos iniciados, para dançar, dar conselhos, curar doenças, jogar conversa fora e matar as saudades do povo que continua por aqui.
A família mais famosa de encantados é a do Lençol. Dizem que lá, na praia do Lençol - Maranhão -, mora o Rei Dom Sebastião, que encantou-se durante a batalha de Alcácer-Quibir. Essa família é formada apenas por reis e fidalgos. A vinda do Rei Dom Sebastião ao corpo de uma sacerdotisa é muito rara, alguns falam que ocorre de sete em sete anos. Da família do Lençol fazem parte ainda, dentre outros, Dom Luís, o rei de França; Dom Manoel, conhecido como o Rei dos Mestres; a Rainha Bárbara Soeira; Dom Carlos, filho de Dom Luís, e o famoso Barão de Goré, tremendo cachaceiro e chegado num furdunço dos brabos.
Outra família famosa de encantados é a da Turquia, chefiada por um rei mouro, Dom João de Barabaia, que lutou contra os cristãos. É a esta família que pertence a Bela Turca, a cabocla Mariana, que vem ao mundo não apenas na forma de turca, mas também como marinheira, cigana ou índia.
Tive a oportunidade de ver e conversar algumas vezes com Dona Mariana, que nessas ocasiões falou da minha vida e me deu conselhos absolutamente pertinentes. Sempre que este privilégio aconteceu a Bela Turca apresentou-se como uma marinheira.
Lembro-me, comovido, da cantiga que era entoada para a chegada de Dona Mariana. Nunca ouvi essa cantiga gravada e não sei se é das mais famosas para saudar a encantada - sei apenas que ela ainda borda de alumbramentos minha crença e minhas lembranças :
Lá fora tem dois navios
No meio tem dois faróis
É a espada da marinha
Brasileira Mariana
Lá na praia dos Lençóis.
Ela é marinheira
Ela é marinheira
Ela é revoltosa
Da marinha brasileira
Já pensaram, amigos, o que um cartesiano de carteirinha, um filho da tradição racionalista das luzes, diria disso tudo? Eu não faço a menor questão de saber. Prefiro acreditar, como disse o mestre João Rosa, que o homem não morre; o homem se encanta. Volto ao tema em breve.
Axé.